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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Entrevento o fim de setembro...

São tecidos com fios dourados, semeando a intensidade os anos de minha vida.
Tal qual o por do sol, numa manhã de final de setembro:
Oculto pelas nuvens chuvosas, mas tão agudo e aguado que sendo sol mal se percebem os traços.
São remendados, nesta colcha de retalhos miúdos, sentidos roçar a pele.
Dúvidas, incertezas, vontades, problemas.
Quisera saber o além de mim, que poderá por mim fazer, pensar ou entrever.
Não me olheis com estes olhos de secar a umidade!
Percebeis que meus sentimentos se estremecem?
Por acaso compreendeis que tudo, ou nada, tem valor assim tão especial?
Um simples sorriso me demonstra o quão grave pode ser o erro.
E ouso derramar uma micro-lágrima.
Mas Homens não choram.
Quisera ser na vida o eu lírico da poesia: assim poder-se-iam sacudir-me as folhas de sentimentos.
Não posso ser além de mim mesmo, mas tampouco posso chegar a ser o que sou.
Estou cansado de usar a negativa.
Mas a negação é contraditória demais para impedí-la.
E uma vez mais o sol se pos. A penumbra com seu negrume engoliu o dia.
Vão-se juntos os dias de setembro.
E o destino continua a cozer, com seu olhar macabro e cadavérico.
Parece que nada mais lhe assusta, incomoda ou toma-lhe instantes de atenção.
Somos por demais previsíveis, plausíveis de um diálogo vazio.
Profundas apenas são as essências, de odores tão sutis que mal nos apercebemos.
E continuam a ser tecidas as dobras, remendadas as fissuras.
Quisera também eu saber o ofício dos desdobráveis acertos desta vida.
Mal posso afundar a linha no orifício da agulha, sequer tenho nutrido este templo de que faço uso.
São oportunidades perdidas, recriadas, repassadas para além da naturalidade.
Oportunidades que deveriam ser refeitas.
Mas as estreitas passagens no mural não me permitem ver além.
A miopia impede não apenas a visão, mas também acompanhar o final de setembro.
E a chuva continua a lavar a alma, não a minha, infectada de vida.
Penso que o melhor a fazer é fechar esta janela.
Deixarei em paz o destino, no cozer frenético e intermitente que lhe compete...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Desaforos

Recheada com todos os aforismos do mundo,
nossas palavras circundam e beiram o inevitável.
Fuzilai com os olhos meus pequenos gestos.
Mal compreendei minhas razões, porém julgai.
A vida se faz tal qual a correnteza de um rio,
mas quando as águas se abaixam, o pescador necessita esquivar-se às pedras.
Tu bem sabes o quanto as pedras interferem no bom funcionamento do motor de popa: corre-se o risco de partir-lhe as hélices.
Também assim é minha paciência:
Posso sobreviver aos danosos e inescrupulosos comentários,
mas a hélice de minha paciência um dia sofrerá fissuras que, promover-lhe-ão seu particionamento.

domingo, 12 de setembro de 2010

Regresso

Foi com grande pesar que regressei da cidade cinzenta.
Doeram-me os olhos, com os tons exagerados de tristeza.
Com as dessaranjadas vielas e, pelo excesso de não plantas.
São Paulo o é como deveras dizem:
uma grande selva de pedras.
E se os urubus que vi sobre um certo telhado, lá na Faria Lima,
não estivessem ao acaso - justamente numa selva improvisada,
talvez até não conspirasse em meus pensamentos sobre uma possível velhinha adoentada.
Ou algum europeu no Brasil, que não venha praticando banhos diários.
São Paulo é assim mesmo, enquanto espero o ônibus as pombas andam entre nossos pés.
No metrô vemos todos os tipos e figuras tagarelas ou não.
E a Paulista, com seu glamour improvisado e espontâneo, apenas nos faz admirar.
Sei bem que é uma cidade viva.
Mas sua tonalidade é um tanto quanto depressiva.
O difícil é não sair de lá uma vez mais e dizer:
Como ou quando voltarei a te ver?
São Paulo... ah, em todas as estações - em um só dia - tem sim seu grande e convidativo sorriso!

sábado, 11 de setembro de 2010

Entendimentos

Eis que a voz estremeceu o chão.
O grito, indelével no espaço.
O mundo vivenciou do veneno da razão, em outras épocas.
Mas que poderei fazer, que não sorrir e chorar:
quando das intempéries de minha existência.
A ausência nada mais é do que o preenchimento às avessas.
E quando a solidão corrói o tempo,
aí sim, enferrujam-se as verdades.
Não permita, ó saberes acumulados, que outrora eu me esqueça.
Não são as palavras, tão somente - mas as atitudes - que mudam os povos.
Não mais eleveis o timbre vocal, para comigo e para com os meus.
Trateis do respeito como deveras o diz seu significado.
E entendeis da situação apenas as partes aproveitáveis.

Ponto Final

Senti o fio de lágrima cortar minha face.
Acabou-se o percurso de uma história.
Encontrei no fim das palavras a perspectiva de uma dor.
Antes assim, do que assintomático.
Cada significado obtuso da realidade apenas re-exprime sua nuance.
Ao perfil do estratagema, restaram apenas as luzes.
Movidas a queirosene, amareladas.
E respiro fundo, profundamente decepcionado.
Mas também na literatura há pontos finais.
Pois quem sabe, um dia, entenderei qual será este meu ponto.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Hiatos

O maior de todos os males,
cujo poeta possa por ventura sofrer,
é o hiato de literatura.
Pois quando este não nutre seus olhos com boas obras,
malévolos serão vossos produtos.
Contaminados serão seus reagentes e,
sem sal será a sua reação.
Eis que aquele que melhor se apercebe destes fatos,
por lado conseguinte e contrariado,
será sempre o leitor - cuja decepção se faz em longo e grande estrago.
Exatamente por isso devem-se construir rimas,
ainda que inconsequentes,
valorizar ditongos e tritongos e, mais que isso:
a própria semente.

Limitações

Nosso maior obstáculo não são barreiras físicas,
mas sentimentos profundamente enraizados nas sensações.
Se recortássemos estrelas de papel todos os dias,
ninguém ousaria questionar que temos o céu.
Mas como não o fazemos, tudo parece demasiado distante.
E nesta lonjura inconcebível, os laços humanos se afrouxam.
A musculatura sedentária se destende, os prendedores já não mais fecham os sacos de mantimentos no armário.
A maior de todas as maravilhas é a audácia,
que trilha o caminho da sorte, lua após sol e - sem se preocupar com o crepúsculo.
Caminhar é tão mágico que, apenas praticando se consegue.
Acreditar é tão intenso que, apenas a fé pode tricotar-lhe as rendas.
Não olhais os lírios, mas as rosas que acabaram de ser plantadas.
Pois que onde já temos as belas flores, apenas cabe a manutenção,
mas onde se principia as novas obras - ali deve repousar o zelo intenso.

Simples assim

Deixei de acreditar em alguns sonhos mal vividos.
Tampouco parei de sonhar inconseguintes.
Estou mais do que liberto, destas amarras do mundo primaveril.
São duas as grandes razões desta causa:
o encarar sério de todos os fatos e,
a sensatez invernada da tempestade dos acontecimentos.
Já derreti de mim tudo o que poderia até então,
aprendi com as lições de causa e efeito.
Tudo tem a razão, mas também um porém.
E, mais além do que estes postes mal intencionados,
há sempre uma estação ou porto de chegada.
Ainda que todo término possa vir a ser apenas mais um recomeço,
sempre vale a pena lembrar que a cada oportunidade existe o vazio.
E para preenche-lo, bastam uma caneta e uma folha de papel.
Assim se faz o acaso: narrando suas assertativas e construindo
seus além muros.

domingo, 5 de setembro de 2010

Finalmentes

O mundo pode desabar todos os dias,
mas se o alicerce estiver bem feito:
sempre poderemos reconstruir.
A base de toda a vida está na boa vontade,
quando esta já não mais existir, tampouco haverá esperança.
O sorriso de uma pequena alma eleva o calor humano.
Mas as lágrimas dos namoros da juventude,
estas secam logo após sair o sol e, das tristezas, resta apenas
um belíssimo arco-íris.

sábado, 4 de setembro de 2010

Meus temores!

Já não sei se o caminho que tomei é certo.
Mas o fiz mudar novamente, também assim não saberei.
Tenho planos de converter a outros rumos.
Mas qual razão me permite tais planos?
O tempo por mais curto que pareça, é o ideal.
Sinto que eu esteja a desperdiçá-lo.
Estou a correr por caminhos estranhos.
São dias de trevas e o vento canta ensurdecedoramente.
Temíveis como só, os gritos que escuto ecoam de dentro de mim.
A que vim? A que devo me propor?
Se tudo fosse apenas um pesadelo, adoraria acordar.
Só que debaixo do cobertor nada possuo, apenas um apreensivo coração.
O mundo lá fora é pavoroso, porém inusitado!

Profecias Circunstanciais

Se tu soubesses, das maneiras que te vi.
Dos poemas que compus. Das flores que já cheirei.
Ah, se o complexo senso anti-humanitário entendesse minha existência.
O que mais importa é o que menos valorizamos.
Os momentos, ainda que curtos, muitas vezes são intensos!
Enquanto a eternidade perdurar, de nada valerá.
Quando o acaso tomar conta de meu vazio, compreenderei novamente a razão.
Até lá, somente de sonhos viverá o homem.
E das gotas do duro fel da escuridão.

Saudades...

Esperei o momento em que tudo tivesse um final,
mas você foi embora e fiquei sozinho.
Compartilhando um vazio imensamente grande, doente e interrogante.
Já não sei mais olhar o céu, sem o brilho de teu sorriso.
Tampouco saberei atravessar as ruas além do horizonte.
Pareceria que tudo isso é uma grande mentira.
Inverdade, talvez demasiada a circunstância.
Finalmente não tenho muito o que falar e em nossas palavras atuais soam apenas monossílabos...
Nestes monólogos me lembro de reclamar de monólogos existencialistas.
Tudo se foi, acabou. Viramos esta página.
Mas não sei bem o que escrever na minha nova.
Ou velha seria, por tamanho o tempo que deixei de escrever por conta própria.
Não derramo lágrimas, mas já faz quase um mês que o fiz.
E vamos tocando a vida, enquanto não há saídas ou entroncamentos!